Despedida a Ney Latorraca: 'Fez uma passagem tranquila', diz marido em velório no Municipal
Corpo do artista foi velado em cerimônia aberta e depois levado para cremação. Ney lutava contra um câncer de próstata e morreu em decorrência de sepse pu...
Corpo do artista foi velado em cerimônia aberta e depois levado para cremação. Ney lutava contra um câncer de próstata e morreu em decorrência de sepse pulmonar. Parentes, amigos e fãs se despedem de Ney Latorraca O corpo do ator e diretor Ney Latorraca, de 80 anos, foi velado nesta sexta-feira (27), no Theatro Municipal, no Centro do Rio. Dezenas de amigos, familiares e colegas de trabalho deram o último adeus ao ator. Às 13h15, o caixão seguiu para a cremação, reservada aos amigos e família. Emocionado, o também ator Edi Botelho, com quem Ney era casado desde 1995, contou que nos últimos meses o câncer do companheiro piorou. Ele lembrou do marido com carinho. "O processo [de tratamento do câncer] foi tranquilo, mas nesse último mês a doença evoluiu. Os médicos fizeram de tudo para ele não sentir dor. Ele fez uma passagem tranquila", lembrou Edi, que completou: Ney Latorraca: ator deixa marido, Edi Botelho (de preto), com quem era casado desde 1995 Cristina Boeckel/g1 É muito difícil, muito difícil (a morte do Ney). Foram 30 anos (de relacionamento). Não é uma relação qualquer. Nos conhecemos há 30 anos. (Foi uma) relação de muito amor, fizemos trabalhos juntos, trabalhos maravilhosos. Eu acho que vai ficar: a alegria dele. Essa espontaneidade, alegria, forma de viver, a vontade de viver. Ele era um excelente ator, completo, que fazia drama, comédia, música, na TV e etc". Tarcísio Filho contou que Ney Latorraca era uma pessoa que veio ao mundo para encantar as pessoas com talento e alegria. "Eu conheço o Ney há 50 anos. Um homem de solidariedade, o tipo de pessoa que veio a essa terra para iluminar, para alegrar. Ele veio com um espelho na mão para nós mostrar o que temos de melhor dentro de nós mesmos", disse o também ator. A atriz Inês Galvão, que foi casada com Ney na década de 1980, destacou a importância dele para sua vida. "Eu estou aqui para agradecer tudo o que ele foi na minha vida, o que eu aprendi com ele. Ele foi muito importante na minha vida. Ele foi importante para mim como mulher, como atriz. Se eu sou alguma coisa como atriz, eu devo muito ao Ney", destacou. Lucinha Lins lembrou a importância de Ney Latorraca em sua carreira como atriz e destacou que ele era alguém que iluminava a vida dos amigos. Lucinha Lins no velório de Ney Latorraca Cristina Boeckel/g1 "Eu devo ao Ney Latorraca muito de estar aqui hoje. Ele foi o meu primeiro par romântico, em uma minissérie chamada 'Rabo de Saia', onde eu não sabia nem falar e nem andar. A sua generosidade, seu olhar cúmplice, me impulsionou, me acalmou, e foi uma das minhas molas-mestras da vida profissional", disse Lucinha. A atriz interpretou Santinha, uma das 3 esposas do caxeiro-viajante Seu Quequé, na minissérie exibida pela TV Globo em 1984. Seu Quequé de Rabo de Saia e o Conde Vlad de Vamp estão entre alguns dos papéis lembrados pelos fãs que foram prestar as últimas homenagens. "Eu gostava muito dele. Adorava os papéis dele, era uma.pessoa competente no que fazia", disse Neurivone Veiga, que veio de Santa Cruz, na Zona Oeste. "Eu gosto muito dele. Fiquei muito triste com a morte. Seu queque, o caxeiro-viajante, era o melhor personagem, me divertia", lembrou a aposentada Ligia Maria Melo. Câncer de próstata Ney morreu na manhã desta quinta-feira (26) no Rio. Ele estava internado desde o dia 20 de dezembro na Clínica São Vicente, na Gávea, por conta de um câncer de próstata e morreu em decorrência de uma sepse pulmonar. O câncer foi diagnosticado em 2019. Na época, Ney foi operado e retirou a próstata. A doença voltou em agosto deste ano, já com metástase. Edi Botelho, marido de Ney Latorraca, durante o velório do companheiro de décadas Cristina Boeckel/g1 Ele deixa o marido, o ator Edi Botelho, com quem era casado há 30 anos. O artista estreou na Globo em 1975 na novela “Escalada” e, ao longo da carreira, se destacou em novelas e programas humorísticos, como Quequé, em "Rabo de saia" (1984), o vampiro Vlad, em "Vamp" (1991) e Barbosa, em "TV Pirata". "Ator já nasce ator. Aprendi desde pequeno que precisava representar para sobreviver. Sempre fui uma criança diferente das outras: às vezes, eu tinha que dormir cedo porque não havia o que comer em casa. Então, até hoje, para mim, estou no lucro", disse o ator em depoimento ao Memória Globo. Amigos e colegas de Ney Latorraca enviaram várias coroas de flores Cristina Boeckel/g1 MEMÓRIA GLOBO: Relembre fatos marcantes sobre a carreira do ator FOTOS: Ator estreou na Globo em 1975; veja imagens VÍDEOS: Latorraca viveu Vlad em 'Vamp' e Barbosa, em 'TV Pirata' CARREIRA: Barbosa, Vampiro Vlad e personagem adolescente aos 33 anos REPERCUSSÃO: 'Um gigante entre nós'; 'A pessoa mais engraçada que conheci' Ney Latorraca em "Rabo de Saia" Acervo Globo Infância e carreira Ney Latorraca Acervo Globo Ney Latorraca nasceu em Santos (SP) no dia 25 de julho de 1944. Era filho de artistas. O pai, Alfredo, era cantor e crooner de boates, e a mãe, Tomaza, corista. Na infância, morou em São Paulo e no Rio de Janeiro, até voltar para Santos e prestar exame no Instituto de Educação Canadá, escola onde formou, com um grupo de amigos que lá estudavam, a banda Eldorado. Pouco tempo depois, já em São Paulo, o ator participou da peça "Reportagem de um tempo mau", com direção de Plínio Marcos, no Teatro Arena. O trabalho não chegou a entrar em cartaz por ter sido censurado pelo governo militar - alguns atores da peça foram, inclusive, presos. Assumiu a função de líder e cantor do grupo. Sua estreia no teatro aconteceu em 1964, em uma peça de escola chamada "Pluft, o fantasminha". Na época, ele tinha 19 anos. O sucesso fez com que a peça ganhasse fama fora dos muros do Instituto de Educação Canadá. "Fiquei completamente arrasado, queria me matar. Voltei para Santos", disse Ney sobre a ocasião. Ney Latorraca em 'Vamp' Acervo TV Globo Em seu retorno à sua cidade natal, Ney Latorraca estudou na Escola de Arte Dramática, atuou em algumas peças locais e, no ano de 1969, finalmente estreou na televisão em "Super plá", na TV Tupi, e no cinema em "Audácia, a fúria dos trópicos". Em seguida, trabalhou na TV Cultura e na TV Record, antes de estrear de vez na Rede Globo em 1975, na novela "Escalada", de Lauro César Muniz, cujo elenco contava ainda com Tarcísio Meira e Susana Vieira. Com Vera Fischer, interpretou uma cena de estupro em "Coração alado" (1980), a primeira em uma novela das oito. No folhetim, dividiu as atenções com atores como Tarcísio Meira, Débora Duarte e Walmor Chagas. Em 1990, trabalhou no SBT na novela "Brasileiras e brasileiros". No ano seguinte, voltou para a TV Globo e viveu um de seus personagens mais famosos: Vlad, na novela "Vamp" (1991). Outras atuações marcantes de Latorraca foram a de Barbosa, em "TV Pirata" (1988), do italiano Ernesto Gattai na minissérie "Anarquistas, graças a Deus" (1984) e do travesti Anabela em "Um sonho a mais" (1985). Na trama, aliás, fez seis papéis. "Pensei que fosse enlouquecer. Virei o versátil da Globo. Com essa história de versátil é que dancei mesmo. Comecei a fazer de tudo: sapatear, plantar bananeira, subir, descer, fazer árvore, jacaré, vampiro. Mas é bom ser versátil. Você não fica carimbado”, afirmou. O ator também é lembrado por seu papel na novela "Estúpido cupido", exibida entre 1976 e 1977, na qual viveu Mederiquis, fã de Elvis Presley e líder da banda de rock Personélitis Bóis. A princípio, ele não queria o papel. Ney Latorraca em papel em O Cravo e a Rosa Acervo/TV Globo "Eu estava com 33 anos e interpretava um cara de 17. Queria abandonar, não ia mais fazer. Me botaram de peruca, todo maquiado. Quando me vi caracterizado como o personagem, falei: ‘Estou parecendo um macaco’. Falei que ficava com uma condição: ‘Quero escolher meu figurino’. Me vesti todo de preto, sem maquiagem alguma, e pedi uma lambreta preta. Batizei-a de Brigite", contou. "Virou um grande sucesso, estourou mesmo. Fizeram história em quadrinhos, chiclete, figurinha – e eu era uma das figurinhas mais difíceis". Entre seus vários trabalhos para a Rede Globo, Ney Latorraca atuou em 18 novelas, seis minisséries e oito seriados. Tem ainda em seu currículo 23 longa-metragens e 13 peças. Sua última participação na Rede Globo foi no seriado "A Grande Família", em 2011. Ao lado de Marco Nanini, ficou 11 anos em cartaz com a peça "O Mistério da Irma Vap", dirigida por Marília Pêra. Tarcísio Meira e Ney Latorraca Divulgação